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ENTRADA 38 Intervenção (5 de maio de 2024)

Primeira sinopse
 

Dão água aos mortos que já não têm sede (2024) é uma instalação que agrega a vídeo-performance com a videoarte com elementos naturais e fabricados para se refletir sobre a crise climática associada ao poder dos grandes grupos económicos e de produção. A instalação combina movimentações luminosas no “tapete” da Terra seca e poluída:
 

“Há um fogo enorme no jardim da guerra 

E os homens semeiam fagulhas na terra 

Os homens passeiam co´os pés no carvão 

que os Deuses acendem luzindo um tição” 
 

A experiência visual é acompanhada por sons produzidos pelo performer e mistura formas textuais da canção Cantiga do Fogo e da Guerra, de José Mário Branco. Os efeitos sonoros, as imagens, o texto e a plasticidade dos vídeos, no seu conjunto, intensificam sensações distópicas sobre a exploração do Homem pelo Homem e a exploração desenfreada e inconsequente dos recursos naturais:
 

“Pra apagar o fogo vêm embaixadores 

trazendo no peito água e extintores 

Extinguem as vidas dos que caiem na rede 

e dão água aos mortos que já não têm sede” 
 

Esta experiência exalta a beleza e a fragilidade do mundo que habitamos. Na estranha tapeçaria da crise climática e dos conflitos, cada passo que damos sobre o frágil tapete da Terra tecem-se padrões perturbadores. Num mundo onde a guerra e a degradação ambiental se entrelaçam, a estranheza da nossa condição revela-se no contraste gritante entre a beleza natural e as cicatrizes que deixamos atrás. José Mário Branco já cantava: 
 

“Senhores importantes fazem piqueniques 

churrascam o frango no ardor dos despiques 

Engolem sangria dos sangues fanados 

E enxugam os beiços na pele dos queimados 

 

É guerra de trapos no pulmão que cessa 

do óleo cansado que arde depressa 

Os homens maciços cavam-se por dentro 

e o fogo penetra, vai direto ao centro”

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